Por Pedro Freire
Guerreiro
Um silêncio de três letras,
branco.
A parede queimada com tintas pretas e mudas,
feito oito crianças que anoitecem com tiros de pedra e viaduto.
D-P-F
Dedos, pés e fala
Fa-ca
Queimando como um rio seco,
sem água, sem língua,
roído pela pimenta vermelha que espreme a carne entupida
cansada
cortada
enlatada
Latas,
a música protegendo a porta alta
o dia
o choro
o beijo,
batendo úmido
como a boca do filho opresso dentro da mãe escura
Socos
mofo
Seu rosto cheio de cárie e
morte
falando do frio e do escuro
da fome
Com o cheiro grosso e oco do beco magro em noite de pânico
bebendo o esgoto da rua podre
a cidade da copa
olímpica
tolhida
medrosa
Ah…
Teus olhos molhados de prisão
Teu peito carregando os gritos das mulheres surdas
De prostitutas espancadas
caladas
o som dos travestis estuprados nascendo do gozo do teu roído roxo
teu sorriso
milhões de buracos tampados com a nossa dor profunda
Sim,
Teu sono é o anúncio da minha vida
Estado de polícia
Racista
Covarde
Chacina
Com a memória e vingança dos torturados
Com o choro do mar abafado
Da tarde entupida,
Faminta
A Manhã roubada e seca
Querendo correr solta
livre
Como a chuva desce do morro
lambendo a cidade inteira
A certeza de uma luta incansável
“outro despejo, outra ocupação”,
1917
1959
1968
1997
A força que grita dos 17 mortos
Nossa eterna lembrança
Flores de Carajás.
Mestre Antônio Conselheiro,
Nossa benção
Sempre
Guerreiro,
Guerreiro,
Urbano.
#1 por carioca em 16/12/2010 - 15:31
Parabéns!!! poeta, desafio ao Filipe musicar esta obra prima.
Grande beijo