Ocupações do Grajaú dão início a jornada de lutas (SP)

(Divulgação | Original por Passa Palavra)

Na última semana, ao menos 13 ocupações espontâneas de terra nasceram apenas neste distrito da cidade. Por Passa Palavra

Um grupo de cerca de 200 manifestantes de duas ocupações do distrito do Grajaú, Zona Sul da cidade de São Paulo, realizaram hoje a Marcha pela Moradia e apresentaram suas demandas à subprefeitura da Capela do Socorro. A ocupação Povo Unido Para Vencer, instalada num terreno que é parte da Prefeitura e parte privado, surgiu no dia 25 de julho e conta com 250 famílias; a ocupação Recanto da Vitória nasceu dois dias depois, num imenso terreno privado abandonado, e abriga algo em torno de 900 lotes – em ambas, a Rede Extremo Sul tem apoiado a organização, junto com associações e outras entidades da região.

Os manifestantes partiram das duas ocupações e se encontraram na Avenida Belmira Marin (a principal da região) por volta das 10h. A via teve um de seus sentidos completamente bloqueado durante a caminhada, que seguiu pela Avenida Teotônio Vilela até chegar à Subprefeitura da Capela do Socorro, na altura da Cidade Dutra.

Na pauta, o movimento trazia por escrito três reivindicações bastante claras:

1 – que os governos concedam os terrenos às famílias ocupantes através de concessão ou compra;

2 – que garantam condições para que as comunidades se consolidem;

3 – que impeça qualquer tipo de repressão, já que a polícia tem assediado a ocupação Recanto da Vitória sem qualquer justificativa judicial.

Portões fechados

Pouco antes do meio-dia a marcha chegava a seu destino, onde foi recebida com os portões fechados, como nunca acontecera mesmo em gestões anteriores. A segurança do órgão alegava que a Subprefeita não se encontrava no local, estava no centro da cidade em reunião com a Presidente Dilma e que os manifestantes só poderiam ser recebidos ao final da tarde. As famílias, então, teriam de esperar do lado de fora a chegada da autoridade, a despeito do sol escaldante e o clima seco depois de toda caminhada.

Após alguma pressão e a ameaça de travar a Avenida Teotônio Vilela enquanto não fossem recebidos, funcionários da Subprefeitura aceitaram ligar para a representante da casa e trouxeram a resposta de que ela encerraria a reunião com a Presidente e estaria a caminho. Depois de mais alguma pressão, foi permitida a entrada das famílias no auditório para aguardar a negociação.

Primavera do Grajaú

Um fenômeno muito interessante tem acontecido no Grajaú, e com possibilidades de se espalhar para outras regiões periféricas da grande São Paulo. Na última semana, ao menos 13 ocupações espontâneas de terra nasceram apenas neste distrito da cidade.

Tudo indica que a onda de protestos de junho tenha desencadeado uma resposta em massa à paralisia de quase 10 anos das políticas de construção de moradia popular na cidade. Mais do que isso, uma reação a um verdadeiro retrocesso no assunto, tendo em vista a série de despejos que ocorreram no último período na região do Grajaú, situação agravada pelo aumento abusivo do valor dos aluguéis, em grande medida impulsionada pela própria política padrão de distribuição de bolsas-moradia, ou cheque-despejo, como é conhecida pela população. Segundo dados da própria Subprefeitura, são pelo menos 5 mil famílias cadastradas à espera de moradia na Capela do Socorro, mas tudo indica que a demanda efetiva deve ser significativamente maior.

“…não apenas por 20 centavos, mas também moradia!”

Eram por volta das 13h45 quando a Subprefeita Cleide Pandolfi chegou ao local e deu início à reunião com os ocupantes das dois acampamentos – reunião que foi o tempo todo vigiada pela Guarda Municipal, Guarda Ambiental e Polícia Militar.

Após a leitura da carta e a apresentação da reivindicação, a Subprefeita iniciou sua fala comentando que grande parte das terras da região sob sua jurisdição estão impossibilitadas de se tornarem moradias por serem áreas de manancial.  Algo que foi prontamente questionado pelos manifestantes e, posteriormente, corrigido e reconhecido pelo Chefe de Gabinete que auxiliava a Subprefeita: apesar de ser região de manancial – dizia ele – esta era uma “pauta possível, factível”.

Sabendo disso, o movimento exigia a realização de uma reunião entre membros das duas ocupações, representantes da Secretaria de Habitação e da Caixa Econômica Federal, para pensar os meios financeiros necessários e encaminhar as reivindicações. Uma reunião com a Caixa Econômica Federal já havia sido previamente marcada pela USINA (coletivo de arquitetos que presta assistência técnica a movimentos sociais) para a quinta-feira, dia 08 de agosto, faltava a confirmação por parte da Prefeitura. Frente a isso, Cleide Pandolfi se comprometeu a comparecer e também a entrar em contato com a Secretaria de Habitação para que participe.

No mais, e sem respostas mais concretas ao alcance, a Subprefeita e seus auxiliares apresentaram um pedido de confiança e paciência (mais paciência), exaltando o caráter “ordeiro e pacífico” do movimento. Em seguida, depois de uma ou outra falação, Cleidi Pandolfi pondera: “construir movimento é uma coisa muito diferente de construir barraco”, e acrescentou que, se a mobilização seguisse por essa via, ela se veria obrigada a entrar com o pedido de “desfazimento dos barracos”. Aí foi que deu para entender que quando os representantes da Prefeitura falavam em “movimento ordeiro, legítimo e pacífico”, na verdade, eles sugeriam que as coisas voltassem a ser como sempre foram, que as famílias deixassem o terreno e voltassem à mesma situação da qual estavam fugindo, até que um dia – sabe-se lá daqui a quanto tempo –  eles retornassem com as benesses.

“Põe para pagar 6 meses de aluguel uma família que ganha 800 reais. Ela não come, ela não bebe” – retrucou uma das ocupantes.

Com uma nova reunião agendada com a Caixa Econômica Federal e representantes da Prefeitura e o compromisso de receberem da Subprefeita os dados de titularidade dos terrenos ocupados, para que possam acompanhar os trâmites burocráticos, as famílias das duas ocupações deram por encerrada a reunião. Mas firmaram a disposição para continuar estruturando os seus barracos, já que, como disse outra ocupante ao microfone: “o povo acordou, não apenas por 20 centavos, mas também moradia!”.

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